Foi num sábado a tarde…
Marquei um cineminha com algumas amigas da faculdade, como quem não quer nada da vida… O filme escolhido era “Renoir” do Festival Varilux de Cinema Francês. Uma delas me ligou e descobri que estava no cinema errado. Poxa vida! Corra, Amanda, corra! Chegando na Augusta, com o coração quase saindo pela goela, encontrei uma delas sentada me esperando tranquilamente, as outras chegaram logo em seguida. Hora de comprar os ingressos. Oba! Na fila, outra surpresa, havia filmes da mostra, mas não “Renoir”. Sabia que estava certa. “Não disse que era no outro cinema?”. Mas assistir a um filme-surpresa, e sem saber do que se trata, dá mais adrenalina (ok, sei que não é para tanto, mas os cinéfilos me entenderam…).
Enfim… Carteirinhas de estudante a postos, pagamos a meia entrada de um tal de “Anos incríveis”. Nunca ouvi falar. Um título um tanto presunçoso (a verdade é que nunca traduzem bem os títulos para o português).
Na sala de cinema, problemas técnicos me deixaram mais ansiosa, parecia uma conspiração do Universo! O lanterninha “Vai ser a última tentativa, se não der certo, a sessão estará cancelada”. Caramba, viu… Meia hora depois, quando já estávamos quase fazendo uma intervenção patética, quero dizer, poética para acalmar os ânimos exaltados da galera, o filme começa. Finalmente! Já podia até sentir o mau cheiro de Paris! Voilá!
Mas, não… Aquele filme era diferente de tudo o que eu já tinha visto de cinema Francês, de qualquer uma de minhas referências. Quando pensamos em cinema Francês, pensamos em algo próximo a um François Truffaut, ou a um Jean-Luc Godard. Mas, enquanto esperava alguém começar a cantar ‘Le Tourbillon de La Vie’, eis que fomos surpreendidos por um tal de Michel Leclerc, meus amigos!
elenco em cena de “Télé Gaucho” titulo original
Não havia assistido a nada desse diretor anteirormente. Quem era esse cara que, atrevidamente, ousava nos surpreender!? Logo a nós, que nos julgávamos matronas na dialética da malandragem cinematográfica! Hunf! (saiba mais sobre ele em http://www.cinefrance.com.br/filmes/profissionais/michel-leclerc)
Logo de cara, houve uma identificação, ao menos de minha parte, com o protagonista do filme. Não só comigo, podia identificar vários de meus amigos naquele personagem. Victor, é um garoto, mas não um garoto qualquer, ele tem uma paixão, um grande amor em sua vida, o Cinema! Seu sonho é ser um grande e bem-sucedido cineasta! Contudo – e como a vida não é feita de um mar-de-rosas – ele não consegue mais do que uma vaga de estagiário num canal de televisão bem típico e característico de uma mídia conservadora e reacionária.
Por outro lado, ele conhece Yasmina (Maiwenn), Adônis, Clara (Sara Forestier / a maluca por quem Victor se apaixonará e terá um romance nada convencional) e Jean-Lou (Eric Elmosnino), um grupo de jovens idealistas e revolucionários. O último, fundador da “Télé Gaucho” (que dá nome ao filme no titulo original), um canal de TV pirata, anarquista, libertário, com poucos recursos e muita criatividade. O filme acompanha o período de cinco anos de funcionamento do canal em que o grupo cobre notícias sobre greves, manifestações populares e assuntos ligados aos direitos humanos, até o encerramento de suas atividades.
Clara (Sara Forestier) e Victor (Félix Moati) em cena de “Télé Gaucho”.
Falar muito mais sobre este filme que é incrível, na minha modesta opinião de cinéfila, seria entregar muito spoiler. Então, fico por aqui (sei que já estão de saco cheio de tanto blá, blá, blá… agradeço àqueles que aguentaram firmemente e chegaram até o final desta resenha). Mas deixo-lhes um pedido, ou um conselho, como queiram… Assistam a este filme (e a outros do Festival), por favor! Vale as penas de toda uma galinha! Eu garanto!
Para facilitar a vida de vocês, aqui vai o link com a programação completa do Festival para a cidade de São Paulo!
http://variluxcinefrances.com/sao-paulo/
Mercy.
Amanda Nascimento Vicente.
Veterana da oficina de Edição da Turma VIII, do Instituto Crair de Tv, Cinema e Novas Mídias e estudante da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na Universidade de São Paulo.