Nascida em 1988 em Itaquera, zona leste de São Paulo, DENISE SANTANA ALEXANDRE ainda mora no mesmo COHAB 2, com os pais e o irmão mais novo. A memória de Denise nos conta uma infância absolutamente normal como a de qualquer outra criança. Só quando o irmão seis anos mais novo nasceu é que ela começou a observar como a mãe, Valquíria, cuidava de um bebê. Não só a mãe como o pai de Denise são deficientes visuais.
Aos seis meses, a mãe foi diagnosticada com glaucoma infantil. A falta de recursos da época levou à extração dos olhos de dona Valquíria, que desde então não enxerga. Usuária de uma prótese e super bem resolvida, a mãe é muito extrovertida e alegre. Dos quatro irmãos da mãe, apenas um, o padrinho de Denise, enxerga. Ao contrário da mãe, o pai de Denise perdeu a visão aos sete anos e é o único de sua família que tem problemas de visão. A filha diz que a diferença entre um deficiente visual que nunca enxergou e o que enxergou por alguns anos é muito grande. Os pais têm 26 anos de casados e se conheceram onde trabalham até hoje, no Hospital das Clínicas.
Na casa de Denise não tem bagunça. Cada coisa tem que estar no seu lugar, sempre. É uma questão de respeito e responsabilidade, que ela e o irmão aprenderam desde sempre. E o resto da família idem. Eles têm mais três irmãos por parte de pai e os cinco irmãos já moraram todos juntos. “A gente aprende com eles coisas que a gente nem imagina. Aprende a olhar mais, ouvir mais, a sentir um cheiro. Parece que a gente nasce sabendo que eles não enxergam.”
Aos 18 anos, Denise fazia um curso de Educação para o Trabalho no Instituto Pão de Açúcar quando foi indicada para o Instituto Criar. A apaixonada por TV topou na hora, escolheu Produção e, após se formar, foi monitora no próprio Criar por um ano.
O projeto “Ver sem Olhar”, um dos vencedores do 2º Prêmio Criando Asas (2007-2008), mostra o dia-a-dia de uma pessoa com deficiência visual, inspirado em Valquíria Santana Vicente. Denise se diz transformada tanto pelo Criar como pelo Prêmio Criando Asas. “Eu já tinha essa questão resolvida, mas do momento que eu apresentei minha mãe para o mundo parece que a minha visão aumentou”, diz a filha gentil que está sempre por perto para tudo que a mãe precisar.
Denise trabalha no Ônibus-Biblioteca (da PMSP) e cursa o 1º ano de Serviço Social na FMU. Para o futuro, planeja batalhar pela inclusão escolar de deficientes visuais e auditivos. A questão do acesso ao estudo é a que mais preocupa a estudante de 24 anos.
Por Maria Beatriz Alves de Araújo, 2012